[CRÔNICA DE CINEMA] "TURMA DA MÔNICAS: LIÇÕES" (2021) - UM FILME SOBRE CRESCER SEM DEIXAR DE SER CRIANÇA

Em 2019, quando fui assistir o primeiro live action da turma da Mônica, chamado "Laços", a sensação que tive foi a de uma alegria pueril sem igual, pois eu estava vendo personagens que fizeram parte da minha infância ganhando vida de uma forma mais palpável, com ruas, cores e expressões mais realísticas e com um forte cuidado lúdico de não cair no naturalismo insensível. "Laços" foi uma alegria sem igual.


Quase dois anos depois, volto ao cinema para assistir "Lições", a sequência direta do filme de 2019, dirigido pelo mesmo diretor - Daniel Resende - desta vez adaptando a HQ de mesmo nome, escrita pelos irmãos Caffagi. Eu li a HQ dois dias antes de ir ver o filme no cinema, e sentir aflorar em mim o sentimento crescente da nostalgia, não da infância, mas da sensação de crescer durante a minha pré-adolescência. A história era forte e intensa, ao mesmo tempo que fragmentada, já que se pode ver partes de uma semana de cada personagem, agora separados a maior parte do tempo. 

HQ Lições de Vitor Caffagi e Lu Caffagi

Escrevi no meu caderno de leituras:

"'Lições' é sobre erros e acertos, castigos e aprendizados, sobre entender porque queremos fazer as coisas e sobre educação em suas múltiplas possibilidades"

O filme segue a mesma tendência de sua matriz, acrescentando personagens, fazendo modificações no roteiro, e inserindo surpresas que tornam a experiência cativante, emocionante que me fez crescer como ser humano ao finalizá-la.

Honestamente, eu não queria que terminasse nunca, queria ficar naquele universo o maior tempo possível, gostaria de ver mais e mais. 

A trama parte do conflito gerado após Mônica sofrer um acidente que deixa seu braço quebrado, ao tentar seguir um plano do Cebolinha de fugir da escola, já que não haviam feito o dever de casa daquele dia.  Tendo como pano de fundo, a história clássica de Romeu e Julieta, os pais de Cebolinha e Mônica acabam brigando diante das visões diferentes sobre o comportamento e o que acham melhor para seus filhos. 

Os pais de Mônica decidem mudá-la de escola, Cebolinha passa a ter consulta na fonoaudióloga, Magali passa a ter aulas de culinária - com a intenção de diminuir sua ansiedade -, já Cascão entra na natação. Se pararmos para verificar, cada um sai completamente da sua zona de conforto a fim de serem levados a superar alguma dificuldade. Do ponto de vista de uma criança, esse processo de crescer imposto biologicamente e socialmente parece um pesadelo. E por conta disto, esse filme consegue trazer cenas mais sensíveis e dramáticas que o seu antecessor.

Os conflitos de tensão estão no drama, mais que no mistério ou suspense. Os encontros no meio do caminho reforçam algo importante do processo de crescimento. Mas, com toda certeza, quem mais cresce nesse processo é a Mônica, colocada no desafio mais complexo da trama.

Duas cenas são fundamentalmente importantes e lindas de serem vistas.

A primeira é a participação de Tina, Rolo, Zecão e Pipa, dialogando diretamente com a Mônica, sobre o processo  de crescer. É desta cena que sai o título desta crônica. Tina, na tentativa de mostrar a Mônica que crescer é difícil, mas não necessariamente ruim, afirma:

"É possível crescer, sem deixar de ser criança" - Tina

Utilizando da metáfora crescente da metamorfose de uma borboleta, com o acréscimo do processo da reciclagem, esta é com toda certeza uma das cenas mais fortes do filme, que justamente leva ao clímax da história, que é a segunda cena que gostaria de destacar.

Sem dar muitos spoilers, a história chega ao fim com uma releitura linda de Romeu e Julieta, no qual cada personagem se recicla, se transforma um pouco. É lindo de ver. 

Fui ver esse filme com a minha mãe e no cinema havia cerca de 3o pessoas, em sua maioria crianças, e posso dizer o quanto muitas delas estavam conectadas com o que viam, seja por reconhecerem os personagens, seja por estarem aflitas com os conflitos apresentados, se emocionavam juntos, sorriam juntos. Os mais velhos riam ao se permitirem emergir na história,  nas suas fantasias, nas suas memórias. 

Ao ver surgir em tela personagens como: Marina, Franjinha e seu cachorro Bidu, Humberto, Nimbus, Do Contra, entre tantos outros era como voltar a infância e crescer junto com eles naquele universo paralelo que muito parecia algo verdadeiro, pois dialoga com sentimentos reais.


Podem até me criticar, mas eu preferia ver o cinema lotado e esgotando as seções desse filme, ao invés de ver as pessoais implorando por um ingresso do "Homem Aranha" que tenta que se conectar com o público através da nostalgia e do processo do multiverso, mas entrega um roteiro cheio de facilitações narrativas - às vezes forçado demais. Posso até fazer um paralelo com esses dois filmes, pois ambos possuem o tema do crescimento e do amadurecimento como mote principal, mas na insustentável leveza do ser, "Turma da Mônica: Lições" trata melhor em seu roteiro sobre isso, mesmo que os públicos sejam diferentes.

Por fim, termino essa crônica afirmando que "Lições" é um filme que precisa ser visto e apreciado seja pelos seus aspectos técnicos, seja pelo beleza do seu roteiro, seja pelas suas inúmeras possibilidades de fazer refletir, seja pelas suas belas frases de efeito. Se você me leu até aqui, eu te convido a assistir e vir dialogar comigo sobre.

Vamos crescer juntos, sem deixar de ser criança.

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Esse foi eu, falando sobre "Turma das Mônica: Lições". Espero que tenham gostado. Até a próxima. 

 Leia essa outra Crônica de Cinema: https://umpenaspaginas.blogspot.com/2018/06/cronica-de-cinema-4-jurassic-world.html 

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