Song to Song (2017): Terrence Malick apresenta mais do mesmo?

"Song to Song" (De Canção em Canção, 2017) é uma história com muito potencial, mas que prejudicada.

"Song to Song", ou "De canção em canção", é o novo filme de Terrence Malick, diretor conhecido por seus filmes filosóficos e poéticos como "Além da Linha Vermelha" (1973) e "A árvore da vida" (2011). Quando em 2011 o diretor trouxe aos cinemas um filme recheado de frases intimistas e filosóficas, visualmente diferente, narrativamente difuso, composto de ângulos, composições artísticas e visuais distintas, muitas pessoas passaram a ver uma nova vertente do diretor.

Terence Malick nos seus últimos projetos passou a contextualizar suas histórias na contemporaneidade e refletir bastante sobre essa Era em que vivemos, sobre as relações humanas, sobre os conflitos internos referente a tantos novos paradigmas criados e quebrados. Isso funcionou maravilhosamente bem em "A árvore da vida", ainda que não para todo mundo. Tal filme trata sobre a construção de laços familiares, da construção da paternidade, de solidão. É um dos filmes mais lindos que já vi.  


Em seguida, em 2013, Malick lança "Amor Pleno", com praticamente o mesmo estilo etéreo, imagético, poético, quase sem diálogos e contemplativo do seu filme anterior. Contudo, essas sequências parecem se tornar algo estranho e repetitivo aos olhos dos espectadores. Neste filme, o autor já trata sobre amor, paixão e fé. É um filme lindo com reflexões profundas, mas sem deixar de promover aquela sensação de cansaço. A falta de linearidade afasta o espectador, pois o deixa confuso e refletindo se realmente o filme possui uma história a ser acompanhada ou é apenas uma série de reflexões misturadas.

Com um elenco estrelar, Malick lança este ano "De canção em canção" que já pelo trailer se pode entender que segue o mesmo estilo dos filmes anteriores. Contudo, com um elenco tão bom e ambientando a história no amplo universo da música. O filme prometia.  A pergunta que fica ao terminarmos de assistir este filme é: Isso não é mais do mesmo? 

A HISTÓRIA

Em sua essência temos uma história de amor envolvendo um triângulo amoroso envolvendo os personagens Faye (Ronney Mara), BV (Ryan Gosling) e Cook (Michael Fassbender). É uma confusão imensa esse relacionamento já que Faye se envolve com ambos. Quando esses relacionamentos geram conflitos que os distanciam, novos outros relacionamentos são iniciados. BV se envolve com Amanda (Cate Blanchet), Cook se envolve com Rhonda (Natalie Portman) e Faye com Zoey (Berénice Marlohe). Diante de tantos exemplos, de fato, é um filme que trata da fragilidade da relação humana. Será?

Faye, Cook e Rhonda são personagens que constantemente se vêem presos dentro de suas escolhas, caminhos e infortúnios. Querem ser livres, viver experiências inestimáveis, contudo toda a sua trajetória, por mais sensorial que seja, os prende aos seus próprios anseios, as próprias consequências de seus atos. O final de Rhonda é um dos mais emblemáticos do filme já que é um extremo. Então, talvez, o filme seja sobre o peso das nossas escolhas.

Ryan Gosling Ronney Mara
Ronney Mara e Ryan Gosling

Por outro lado, temos BV que quer alcançar a fama e o sucesso. Se alia a Cook, mas quebra a cara. Então, talvez, estejamos dentro de uma história que quer nos fazer refletir sobre as futilidades da vida. 

Não é uma história carente de possibilidades ou que não tinha potencial. O diretor não constrói uma história linear. Há um excesso de flashbacks, idas e vindas no tempo. Em determinado momento não conseguimos identificar se estamos no presente, no passado ou no futuro. Assim como em "Amor Pleno" temos um filme que parece ser um Brainstorm ("Chuva de ideias") do diretor, ou seja, diversas reflexões sobre temas variados misturados com uma excelente trilha sonora.

O ELENCO


O grande destaque aqui vai Michael Fassbender e Natalie Portman que fazem milagres com seus personagens, trazendo alma e vida a eles, mesmo presos a pequenas frases, movimentos estranhos em frente a uma janela, à troca de olhares. São personagens com muito potencial sendo desperdiçados por um roteiro engendrado em suas excentricidades. 

Michael Fassbender e Natalie Portman
Contudo, eles são responsáveis pelas cenas mais bonitas do filme e algumas das mais dramáticas e 'assustadoras' da história.


VISUALMENTE FALANDO

É lindo. Com composições estéticas incríveis, com uma fotografia exuberante, vívida e cheia de detalhes. O elenco trabalha muito com o corpo para mostrar as conexões entre eles e essas danças e experiências sensoriais, quase teatrais, são produtos visuais incríveis. Porém, um filme de duas horas em que muitos desses recursos ficam se repetindo, cansa, enjoa, entedia.

A OPINIÃO DE UM FÃ DO GÊNERO E DO DIRETOR


Sou um apaixonado por filmes de drama e, principalmente, os reflexivos. Me tornei fã do diretor em 2011, tanto que todos os trabalhos do diretor lançados no Brasil, desde então, eu vi no cinema. Contudo, este filme me decepcionou bastante, pois esperava realmente algo narrativamente um pouco mais dinâmico e coeso. Desta forma, respondendo a pergunta do título, acho mais do mesmo só que inferior. Não é um filme de todo ruim, este tem uma história um pouco mais palpável, algo que faltava em "Amor pleno", contudo a 'mistureba' prejudica o filme, os excessos de coisas já vistas antes é frustrante. 

O cinema atual de Terrence Malick definitivamente não é para todo mundo. Têm coisas boas e ruins. Se você é um amante de cinema não deixe de passar pela obra deste diretor, mas não comece por "De Canção em canção". 

Por Jônatas Amaral


Comentários

  1. Eu realmente gostei da música! Terrence Malick é um daqueles diretores que ou se ama ou se odeia. Sua estética apurada, de linguagem rebuscada e muito existencialismo conquista o público com a mesma intensidade que o afasta, e um exemplo dessa relação de amor e ódio é seu novo trabalho DE CANÇÃO EM CANÇÃO, que novamente traz um elenco estelar com Michael Fassbender, Ronney Mara, Ryan Gosling (Do óptimo Novo Filme Blade Runner 2049 ), Natalie Portman e ainda conta com várias outras participações mais do que especiais, que falaremos mais a frente. DE CANÇÃO EM CANÇÃO é a prova de que o talento contemplativo e filosófico de Malick pode abordar vários temas e tomar várias formas, afinal, não importa o que façamos ou como vivamos – a reflexão sempre será necessária. Nossa existência depende disso, pois assim como disse o filósofo francês René Descartes no livro O Discurso do Método de 1637: “Desde que eu duvide, eu penso; porque eu penso, eu existo”.

    ResponderExcluir

Postar um comentário