[#OSCAR2017] "A QUALQUER CUSTO" (Hell or High Water, 2016) : Um inteligente faroeste moderno


"A qualquer curto" trata-se de um filme que traz elementos comuns de um faroeste, contudo se passa nos dias atuais e traz um senso irônico e de alguma forma crítico ao sistema vigente naquela região campestre dos Estados Unidos. É um filme de ação-dramático capaz de entreter com toda a caçada e além de trazer uma ambiguidade interessante e divertida ao espectador.  

O filme traz uma história de dois irmãos que começam a fazer uma sequência de assaltos aos bancos que dominam aquela região do West Texas, para tentar se reerguer financeiramente.  Toby (Cris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster) são esses dois irmãos que perderam tudo, o primeiro é divorciado e o segundo um ex-presidiário. O seu plano não ficará imune a complicações quando o delegado Marcus Halmitton (Jeff Brigdes), prestes a se aposentar, entra no caso ao lado de Alberto Parker (Gil Birmingham). São assaltos à bancos para pagar dívidas aos próprios bancos. 


Alguns aspectos tornam esse filme uma obra instigante e divertida de acompanhar, mas a principal delas são as relações de amizade apresentadas e desenvolvidas ao longo do filme, relações que são capazes de gerar empatia e torcida para ambos os lados da perseguição.

A relação de amizade entre os irmãos é tão verdadeira e profunda que o simples pensamento de que algo possa separá-los gera certa revolta, afinal aqui você torce para os bandidos. Você entende os motivos de cada um de ter entrado naquela situação e percebe que as personalidades são distintas e próximas ao mesmo tempo. Toby é mais responsável e calculador, sempre reconhecendo quando algo pode dar errado e sempre tentando fazer tudo na mais perfeita ordem. Por outro lado, Tanner é impulsivo, explosivo e capaz de fazer tudo para ajudar o irmão, e capaz de fazer tudo para se divertir, quase que com uma loucura amável. São dois personagens intensos que caminham juntos numa direção esquisita, mas que você torce.

A relação de colegas de trabalho e amizade entre os policiais Marcus e Alberto é construída de forma diferente. A amizade deles é baseada de constantes provocações e ofensas da parte de Marcus para Alberto que é de descendência indígena. Você percebe a sinceridade marcante em ambos, ainda que pareça esquisita e constantemente irônica. Eles são responsáveis por trazer diálogos de confronto sobre colonização, nacionalidade e critica social. É como se esses personagens fossem a parte que discute os assuntos que, de alguma forma, afetam os dois irmãos. A força dessa amizade é confirmada na sequência de perseguição final, onde as atitudes são baseadas na honra e na vingança.

A crítica social em torno do sistema bancário, este, sim, o vilão da história, são constantes e feitos de uma forma muito inteligente. Fique atento as placas nas estradas, na pichações nos muros, nos pequenos diálogos, além das imagens panorâmicas que mostram uma região bela que agora é uma reserva extrativista enorme. Outra crítica esta na própria dualidade de comportamentos das populações das cidades, ora bem pacificas ora com o estilo violento e vingativo. São elementos do faroeste antigo ganhando uma voz real e quase verídica no meio desta sequência de assaltos.

Ao final, fica aquela dúvida: "os fins justificam os meios?". Você se depara torcendo para algo que é legalmente errado, mas que por ser por um motivo nobre você até entende. É um roteiro muito bom. 

Por fim, "A qualquer custo" é um filme recheado de dualidade e de boas atuações que realçam relações de "broderagem" marcantes e que merece ser assistido o quanto antes, custe o que custar.

Por Jônatas Amaral 

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