[ #OSCAR2017 ] MANCHESTER À BEIRA MAR (Manchester by the sea, 2016): Um drama sobre luto e a dificuldade de perdoar.

Na noite de 07/02/2016, chovia moderadamente na minha cidade e já estava um clima meio frio, e quando achei que nada poderia deixar aquela noite mais fria, eu decidi assistir "Manchester à beira mar", do diretor Kenneth Lonergan. É um filme que se passa no inverno, numa cidade naturalmente com temperaturas mais baixas, logo todo a ambientação, fotografia é feita de neve, frio, gelo... somada com a frieza dos sentimentos de luto e culpa que perpassa a maioria dos personagens. 

Não é um filme fácil de assistir, nem chega perto disso. É um drama com um ritmo mais ameno, calmo, onde cada cena parece ir ao máximo do máximo, parece que o diretor queria tirar a menor migalha daquelas cenas, mesmo que estas nem sejam tão surpreendentes ou impactantes. É muito real em muitos aspectos. Os diálogos são muito cotidianos. 

Da mesma forma que é um filme relativamente difícil de assistir, comentar sobre ele também exige de mim certo "calor de momento" já que todas as vezes que penso no filme recai sobre mim pensamentos de melancolia, luto e tristeza, ainda que o filme tenha um "final feliz". É por causar esse tipo de sentimento que, talvez, eu o considere um bom filme. E as indicações (Melhor filme, ator, atriz e ator coajuvante, diretor e roteiro original) ao #Oscar2017 para mim são realmente válidas, e é a partir delas que farei os meus destaques.

MELHOR ATOR - CASEY AFLECK


A história gira em torno de Lee (Casey Affleck) que é um 'faz-tudo' em um condomínio na cidade de Boston. Um homem inexpressivo, beirando a passividade completa, de comportamento, aparentemente, calmo. Contudo, aos poucos, vemos certa violência emergindo deste homem, principalmente quando está alcoolizado. Quando seu irmão Joe (Kyle Chandler) morre, o testamento deste passava a guarda seu filho Patrick (Lucas Hedge), menor de idade, para o tio Lee Chandler.

Lee se ver diante de uma situação inesperada ao ter que voltar para a cidade de Manchester e reviver as lembranças mais duras do seu passado. E é a partir destas lembranças que percebemos e entendemos o motivo de termos um personagem tão fechado e introspectivo, e com reações violentas. 

De inicio Casey Aflleck parece oferecer uma atuação sem talento, inexpressiva e quase apática, fazendo com que pessoas que não o conheciam, como eu, aceitar o fato de que ele realmente não era um bom ator. Contudo, com o desenrolar da história é de se admirar a performance, principalmente diante de cenas tão emocionalmente complicadas. Em geral, teríamos grandes monólogos e um despejar gritantes de palavras que expressariam, talvez, um pouco da dor do personagem. Mas, isso nunca acontece de fato. É um atuação muito interna.

Você percebe a dor do personagem pelas suas reações ou não reações, e, em geral, não é comum vermos isso e também não é fácil. Pensa, ser apático e sofrido ao mesmo tempo, tendo um mundo inteiro seguindo em frente, enquanto você está parado no passado, na sua culpa e se vendo ter que encarar uma responsabilidade, a qual você não acha está preparado. Este é Lee Chandler.

MELHOR DIRETOR E ROTEIRO ORIGINAL 

A história deste filme é triste e melancólica constantemente. Desta forma, eu concordo muito com o que disse o Tiago do Canal Meus 2 Centavos, que percebeu uma falta de sutileza, fazendo com que toda a tristeza e dor desta história fosse jogada no público sem preparo, sem pena. É um filme gelado, triste do inicio ao fim. 

O roteiro é inteligente na forma que constrói todos os seus personagens, além de ser extramente realista na forma que trata cada situação. São muitos personagens que interagem e fazem parte da dinâmica geral da história, todos eles são de alguma forma importantes. É um roteiro longo e extenso, mas bonito. O que não quer dizer que é "fácil de se assistir", e também não quer dizer que não seja bom de assistir. É neste ponto que, acredito eu, está o talento do diretor, que é também o roteirista. Oferecendo um ritmo mais estimulante no inicio, e na segunda parte estendendo tudo ao máximo, tirando o melhor de cada atuação e situação

A música é algo que me chamou atenção, as vezes sendo um porta voz do que está acontecendo dentro do personagem, ainda que o seu exterior não o demonstre. É uma melodia caótica e triste, diante de uma expressão impassível exteriormente.

É um roteiro que fala sobre a persistência do luto, da persistência da culpa e de nunca se perdoar, além de mostrar a dificuldade que é perdoar os outros e a si mesmo, e, por fim, é uma história sobre tentar recomeçar e não conseguir. É um filme para você assistir, talvez, uma única vez. 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - MICHELLE WILLIAMS


Michelle Williams interpreta Randi, ex-mulher de Lee. O momento que você compreende, enfim, onde foi que a história dos dois acabou, você olha para o Lee de outra forma. E a última cena de Michelle Williams é de corta o coração, porque é uma cena que oferece uma informação subentendida de algo do passado e de um sentimento guardado e sofrido, que quer ser colocado para fora. Por essa cena, ela merece a indicação e, sim, o Oscar na categoria de atriz coadjuvante. 

MELHOR ATOR COADJUVANTE - LUCAS HEDGE


Patrick Chandler é o personagem que traz ao filme certo "calor humano da juventude". É um rapaz de de dezesseis anos que não quer perder o que já conquistou, ao mesmo tempo que vive o luto da perda do pai e de ter que esperar tanto para enterrá-lo. Além disso, como diz Tiago Bertoli, reconhecer que precisa de um figura paterna. A relação que é construída dele com o Lee, como seu tutor, é muito bonita. O filme começa com eles dois e termina com eles dois. O que é dito na primeira cena do filme e quase um reflexo doído do que é dito no final.


Lucas Hedge traz essa vida e dor em sua atuação. Eu sempre acho que uma boa atuação é quando você ver um personagem como esse e você acredita veementemente que ele é plausível, que aquilo existe, e que não é um ator num filme, é a história de uma pessoa que poderia ser seu vizinho. Aí está o brilhantismo de todas as atuações desse filme. TODAS! 

MELHOR FILME, Será?

Poderia considerá-lo, enfim, o Melhor Filme dentre os indicados deste ano? Definitivamente Não. Mas, talvez um dos filmes mais melancólicos e profundos sobre sentimentos humanos que eu já vi. Um dos mais diferentes, pois você não tem A grande cena, Os grandes enfrentamentos. Não. É quase a vida como ela é e gosto disso, por mais que seja difícil de assistir. A vida é recheada de fatos inexplicáveis e de reconstruções inesperadas. Confesso:: "Manchester à beira mar" mexeu com algo dentro de mim. 

Por Jônatas Amaral

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