“Porque desconstruir é necessário. Sempre.”. A orelha do livro nos apresenta esta frase que oferece, no mínimo, a intenção da autora de formar um livro de poesias experimentais. A desconstrução desse livro, a meu ver, se dá no nível da quebra de expectativa; isto não quer dizer que o livro gere humor no leitor; isto quer dizer que o leitor se surpreende a cada poema e que pode refletir em nós sensações múltiplas.
De imediato ao lermos o título “Hecatombe Hipotética” somos deparados com uma dúvida: Afinal, qual o significado da palavra “hecatombe”? Para o Dicionário Aurélio significa “grande carnificina”, e que hoje é utilizado para se referir a grandes crises e catástrofes mundiais. O poema que dá titulo a este livro fala sobre um possível apocalipse que retiraria da terra todas as bibliotecas do mundo, assim sendo, o eu lírico coleciona avidamente livros e mais livros para que as palavras sejam mantidas como armas para esta guerra.
O livro é repleto de situações que demonstram crises e principalmente crises interiores refletindo as perguntas sobre nossa própria identidade, nossos atos, nossas decisões no amor. É um livro que surpreende, primeiramente neste ponto. Eu já cansei de ler poemas extremamente cansativos, recheado de palavroagem desnecessária para dizer coisas supérfluas. Neste livro vejo uma linguagem simples e palavras profundas na sua simplicidade.
A ordem dos poemas é um fator que leva o leitor a surpresas. O livro começa leve e conforme as palavras vão passando, elas a cada vez mais se tornam mais duras, cruas, sua poesia torna-se mais erótica e sensual. O poema “Motel público”, uma homenagem da autora a Hilda Hilst, é um baita ‘tapa na cara’ do leitor que parece nunca está preparado para alcançar este poema. É lindo e cruel.
Como muito se observa, é um livro que aparentemente nos dá uma ideia pré-determinada, a qual na se concretiza. O livro é cheio de desenhos fofinhos, a capa do livro nos lembra, de fato, um livro adolescente. Contudo, as palavras, os poemas e as idéias não correspondem ao que eu encontro refletido nos desenhos. É mais uma dessas surpresas. Não sei se estes complementam a leitura em si, porém vejo que em muitos momentos ajudam a torna tudo mais real. É algo estranho de se dizer, afinal, não faz muito sentido.
É como diz um amigo meu: Não pense a poesia, sinta a poesia.
Como leitor, meu poema favorito chama-se “Solavanco”. A imagem de uma viagem de ônibus pela cidade é tão reconhecível e construída de forma tão realista que me emociona. E não consigo não pensar nele todas as vezes que preciso embarcar em um ônibus.
O mundo é cheio de crises externas e internas. Quem lê precisa das crises, quem escreve também. O eu lírico e a própria autora muitas vezes se confundem neste livro. Aprendo muito na faculdade que nem sempre o poeta diz aquilo que ele sente. Acredito que em muitos momentos isto é válido, neste livro não consigo dizer isto – principalmente quando leio um pouco sobre a história da autora – além disto, é possível perceber que este é um livro muito pessoal. E posso dizer que é uma obra que a autora se coloca para fora em forma de palavras.
Para finalizar, gostaria apenas de ressaltar algumas coisas: a poesia experimental para mim é muito um mistério. Poesia sem rima ainda causa choque para mim. Poesias que parecem frases quebradas ainda não são compreensíveis para mim. E este livro me causou isto de inicio também, contudo fico surpreso de ver tudo isto o qual é tão incompreensível a mim e ainda me surpreender.
É uma leitura que você faz rápido, o que pode ser um problema, indico lê-lo com muita calma. Esta fluidez do livro se deve muito a linguagem, a forma de narrar, os assuntos e a imagens retratadas. Foi uma crise que eu amei viver.
Por Jônatas Amaral
Livro cedido pela autora.
Pode ser adquirido diretamente com autora pelo e-mail:
Comentários
Postar um comentário