---> VOZES <---


Na noite passada foi um turbilhão de vozes. Eu estava lá; não sozinho, Porém, só. Acredite, eu achei que ouviria as mesmas avacalhações, as mesmas brincadeiras que até de vez em quando são engraçadas, mas... não. Eu comecei escutar: não vozes graves e estridentes, como de costume. Não. Foram outras vozes.

Eu não entendia o que elas diziam. Não entendia de onde elas vinham. Pareciam estar em todas as direções, em todos os olhares, vindo de todas as bocas. Nada. Eu não entendia nada... Até... Que a coisa toda se tornou um tanto desesperadora. Estavam lá, próximas de mim. Profundamente. Estavam no meu pensamento. 

Assustador? Sempre é. Mas, isso não é uma história de fantasmas.

É tão difícil distingui-las. Algumas bradam em alto, alto, alto, ALTO SOM! AH! Algumas apenas sussurram tão delicadamente, tão sedutoramente. Mas havia uma voz profunda, confrontante, silenciosa...

Não entendia as vozes altas. Era fácil entender os sussurros, são vozes que sabem seduzir, sabem dizer o que você quer ouvir. Sabem dizer o que você nem precisa, mas quer. A voz profunda não desistia, o que ela está dizendo? - Calem a boca, eu quero ouvir! – Eu gritava implorando. E todo o meu esforço; todo meu empenho era deixar de escutar todas as outras as vozes e escutar e entender aquela única voz.

- Vem, eu posso dá o que você deseja! – Sussurravam.

- Seu Merda! Olha quem você é? Nada! Absolutamente nada! O que pensa que está fazendo aqui? – Do que ela falava eu não sei! – Você sabe sim, pecador! – Gritavam!

- ... te ... , .... ! – Eu não conseguia entender.

- Calem a boca!! VOCÊ NÃO É MERECEDOR DE NADA! Toque em mim, você sabe onde fazer e como, vem... ! Já fez o que eu te pedi? Você está atrasado com seu trabalho? Você já fez? Issso! Vem! HIPÓCRITA! Você é um anjo! CA-LEM A BO-CA! Eu... ... HIPOCRITA.. a...., v... como... es....! Calem a boca! Eu não aguento mais, por favor!

EU NÃO QUERO VOCÊ! NÃO QUERO TE TOCAR! EU FIZ O TRABALHO! NÃO SOU HIPÓCRITA, EU SÓ QUERO SER QUEM EU SOU! 

Todo o meu esforço se resumiu a querer a ouvir aquela voz silenciosa e tão profunda. E de repente, no meio do nada eu escutei: - Quem procura acha! – e não sei, não pergunte; todas elas pareceram diminuir o volume, ainda continuavam lá, mas já não eram tão fortes. Mas, a voz silenciosa, que agia no silencio agora era tão presente, tão forte! Era de se apaixonar. Não sei descrever o poder daquela voz, tão imponente, mas tão suave. Então, eu apenas escutei.

De onde ela vinha? Não tinha boca, não conseguia vislumbrar nada, mas ouvia, sentia tão próxima. E por fim, entendi o que ela dizia.

- Eu te amo! Vem! Eu te amo, vem como estais! Eu te perdoo! Você é capaz! Eu te ajudo! Você caiu, eu sei. Mas, você pode dizer não. Você é tão corajoso! Você erra. Cuidado pra não errar! Mas, se por alguma razão vier a cair, LEVANTA! Que eu te ajudo! Eu te ensino para que aprendas e não caia mais. Eu te amo!

No meu coração aquela voz era a única que eu queria ouvir. Porque ela não só dizia o que eu queria ouvir, ela dizia o que eu precisava ouvir, seja isso doído, seja isso uma água calma. Porque no fim, eu sempre sentia que algo mudava. Sentia meus pensamentos mudarem; sentia que meu corpo mudava. Que meus olhos se transformavam. E pedia: - eu quero te ouvir. E muitas vezes eu tinha a seguinte resposta: - Eu te escuto, pode falar!

Eu aceitei.

De repente, todas as outras vozes praticamente sumiram. Foi como se tivessem sumido, eu sabia que elas ainda estavam lá, mas a certeza no meu coração era muito mais forte para aniquila-las dessa vez. Então tudo se acalmou e na minha mente, corpo e alma um vento suave me consolou.

Eu definitivamente escolhi ouvir A Voz certa.

Escute.

Essa foi a melhor a escolha que eu fiz na vida.

Por Jônatas Amaral

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