[RESENHA] “Bom de Briga” de Markus Zusak



"- A gente tem que conseguir. A gente tem que conseguir. [...] – Eu sou Ruben Wolfe. [...] E você é o Cameron Wolfe. Isso tem que começar a querer dizer alguma coisa, garoto. Tem que começar a agitar alguma coisa dentro da gente, fazer a gente querer ser alguém para esses nomes, e não apenas outro par de caras que não fez mais do que as pessoas diziam que faríamos." (P. 76-77)

Markus Zusak nos leva a ver o mundo por uma janela. De fora para dentro: existe um universo que influência o interior da casa. Assim como, de dentro para fora, pois há outro universo ali dentro que também influência o mundo aqui fora.

“Bom de Briga”, segundo livro da trilogia dos irmãos Wolfe, retrata um tema interessante e instigante: encontrar a si mesmo, além de um jovem se encontrar no mundo e enfrentar as lutas que ele oferece.

Camerom e Ruben Wolfe são sobreviventes. Vivendo um dia de cada vez com sua família que passa por dificuldades, os dois procuram um propósito para a vida. Após terem uma série de ideias estúpidas, os garotos recebem uma oferta tentadora. Um promotor de lutas clandestinas de boxe vê potencial nos dois, mesmo que a experiência deles se resuma a uma brincadeira de quintal. A partir daí os irmãos veem suas vidas mudarem. Ruben é o mais talentoso dos dois, Cameron luta com alma. Mesmo perdendo no rinque, é um vencedor na vida. Nem sempre quem ganha é o vencedor.

Ruben e Cameron são dois adolescentes que se acham “merdas” na sociedade, sem valor algum. Quando decidem aceitar a proposta, Ruben percebe que ele quer ser um lutador, mas na vida, alguém que batalhe e não desista, como o irmão. Cameron é um cara que sabe o que é ser derrubado, mas sempre levanta. É um grande exemplo.

“ – Não perca o seu coração, Rube. 
E, com uma voz bem clara, sem se mexer, meu irmão responde. 
Ele Diz: 
- Não estou tentando perder, Cam. Estou tentando encontrar” (pag. 137)

Em tempos em que poucos personagens masculinos tem se mostrado protagonistas relevantes nas histórias, nesta trilogia dos irmãos Wolfe somos apresentados e confrontados com dois excelentes personagens que protagonizam uma história cheia de “sujeiras” humana, medos, alegrias, vida cotidiana e momentos de contentamento.

Fighting Ruben Wolfe. Tradução de Ana Resende.
Editora Bertrand Brasil, 2013. Rio de Janeiro, 206 páginas.
Depois de finalizar o primeiro livro “O Azarão” (Confira a resenha AQUI ) eu gostaria muito de saber como ele iria continuar esta história. (Mesmo sabendo que você não precisa ler necessariamente na ordem) A surpresa foi extrema, quando ele escolheu o caminho do “siga em frente”. Ele não precisou inventar situações mirabolantes ou uma guerra, ele simplesmente fez a vida seguir e os eventos que eles enfrentam estão ligados a vida comum: o desemprego, a fome, o medo, a amizade,a busca pela identidade, os desafios de crescer...

O boxe já estava presente no primeiro livro e ele é o elemento de transição para este livro. Existe certo significado nas lutas, pois eles lutam não só pelo dinheiro, percebemos depois, mas eles lutam para se provarem ou lutam contra o mundo (aqui uma referência a um sonho de Cameron em “O Azarão”). É aquela questão, a luta diária, que pode ser mais cruel que um ringue.

A relação de Ruben e Cameron é vital para esta história. Ao fim de cada capitulo lemos uma conversa deles no quarto, conversas sobre o seu cotidiano, sobre seus medos e outras coisas. É incrível. A relação de irmandade deles é bem construída desde o primeiro livro, assim como é mais intensificada neste. É traçado pelo “nós”, não pelo “eu” ou o “ele”. É sempre “Precisamos fazer isto juntos”. Existe a individualidade, mas um precisa do outro. O final, em uma cena fabulosamente escrita, o leitor é levado a concluir isto.

Markus Zusak
Zusak possui uma escrita muito realista, ele não tem medo de usar uma determinada palavra. Ele sabe que aquele “porra” seria dito ali naquele momento por aqueles garotos. E isso não soa ofensivo ou desnecessário de forma alguma, cabe na história e cabe no personagem. O autor evoluiu do primeiro livro para este, a linguagem beira ao poético, ao filosófico, sem ser inatingível.

O autor conseguiu desenvolver cenas que são de um significado sensacional, nos leva a pensar, a questionar. Cria diálogos que chegam à porta do objetivo, e depois é só abrir a porta, ou virar a página e adentrar no significado. Nada é descartável.

Eu poderia dizer que o único defeito deste livro é ter um ponto final, mas não digo porque sei que no momento que aquele ponto final é colocado, a história não acabou. Ela persiste. Ela luta para nunca ser esquecida.


“Mas nenhum de nós sabe, porque uma luta não vale nada se você sabe desde o inicio que vai ganhar. São as lutas no meio disso que põem você à prova. São as que trazem perguntar com elas” (pag. 180)
Agradecimentos:
Jeniffer Yara, Blog Meu Outro lado.
Por me emprestar esta preciosidade.

Por Jônatas Amaral 

Comentários

  1. Nossa como eu não sabia desse livro?
    Adoro esse escritor.. *-*
    Muito bacana conhecer :)

    www.chadecalmila.com

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    Respostas
    1. Vale muito a pena Camila!
      Tanto este, quanto o primeiro livro. E em breve posso dizer, o terceiro também.

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