[RESENHA] "O Menino do Pijama Listrado" de John Boyne



Em nossa época talvez jamais presenciemos algo tão cruel e ao mesmo tempo transformador como a 2º Guerra Mundial. Uma guerra que destruiu muito, mas também construiu um mundo diferente, ainda há reflexos dela nos dias atuais.


“O Menino do Pijama listrado” de John Boyne, não é mais um livro sobre esta guerra, mas um livro para refletir sobre ela e sobre nossos dias atuais. Será que em determinados pontos mudamos?

Através da história Bruno, um garoto de 7 anos, o autor imortalizara a amizade entre dois garotos iguais e distintos, em um momento que se buscava uma raça pura em quem não se se encaixa nela era descartada. Bruno é obrigado a se mudar com a família para uma casa longe de tudo o que lhe fazia feliz. Da aventura. Dos amigos. Mas, é através de Shmuel que uma história singela torna-se brilhante.

O autor escreveu este livro em dois dias e meio, mas é impressionante como em tão pouco tempo ele conseguiu criar imagens, sequencias, conseguiu introduzir tantas palavras com tantos significados. Palavras tão simples, mas com tanto a extrair delas. É uma história tão marcante e tão confrontante ao mesmo tempo em que é simples, sem ser simplória.

Quando Bruno conhece Shmuel, a vida na nova casa muda. O sentido da vida dele é transformado, pois ali há algo a ser explorado. Acredito que olhar pelos os olhos de duas crianças um período tão cruel é uma das maiores ideias da contemporaneidade. Ver o quanto duas crianças veem mais que olhos adultos.

A frase ilustra bem, como tudo parecia um tanto sem noção para aquela criança. Ao utilizarem a expressão exigida naquela época na Alemanha, veja como Bruno a entende:

“Heil Hitler - disse, o que bruno presumia ser outra forma de dizer: ‘bem até logo, tenha uma boa tarde.’” (Pag. 53)

Nesta história possuímos personagens que carregam significados marcantes. Temos personagens que veem o que está diante dos olhos deles e outros que os fecham por puro convencimento e não vontade de questionar.

Maria a empregada, nada pode fazer, mas o que não quer dizer que pense como todos. A mãe de Bruno, é obrigada a fazer o que lhe mandam, mas possui neste livro uma das cenas mais belas. A Avó de Bruno ver com a razão e com a emoção bem dosadas e até no fim de sua aparição é carregada de significados. 
O pai de Bruno é um general, ao assim... Ele é ordenado a fazer algo, mas não questiona aquilo, faz porque mandam. Por que foi convencido que aquilo era certo. De que aquilo era o conserto de uma história. É horrível ler isto.

Bruno e Shmuel são as essências da pureza. Duas crianças, dois futuros. Eles são os que mais questionam o que acontecem por acharem tão absurdo tudo aquilo e não entenderem.

Gostaria de destacar em Bruno, que mesmo que eles venham a desempenhar um papel, de certo, questionador, o autor não abre mão de ressalta a criação dele. Mesmo que possua ideias que podem transformar aquele mundo, se todos pensassem da mesma forma, ele não deixa de ter atitudes fúteis, a dar importância a coisas fúteis, não o culpe... Olhemos pela criação dele, ele nem mesmo sabe quem são os judeus, nem o que eles estão enfrentando. Isso é brilhante, porque não coloca os personagens no lugar de bonzinhos ou maldosos, mas sim como seres humanos.

Quando Shmuel e Bruno se tocam pela primeira vez, num aperto de mão por entre as cercas é de emocionar, pois pela primeira vez temos a união de dois povos unidos. São cenas como essas que nos transformam durante a leitura. Que nos fazem refletir no hoje será que deixamos de ser preconceituosos, não apenas em relação ao preconceito racial, de orientação sexual, de crenças, mas sim em relação a tudo, até que ponto nós aprendemos que “temos que concordar em discordar” (pag. 102)


Uma frase que não saiu da minha cabeça ao terminar a leitura, foi um questionamento de Bruno, na primeira conversa mais franca com a irmã, no qual ele diz:

“ ‘Não”, disse bruno, ‘não entendo porque não podemos ir ao outro lado. O que há de tão errado conosco a ponto de não podemos ir ao outro lado da cerca e brincar?’” (pag. 158)

Note que eles são alemães. Note que ele usa palavra conosco. Deixo que reflitam.

“ ‘Qual era a diferença, exatamente”? ’, ele se perguntou. E quem decidia quem usava os pijamas e quem usava os uniformes? (Pag.91)
É emocionante escrever sobre esse livro, não tenho como simplesmente negar a emoção que ele me propicia e nem como ele me faz pensar racionalmente também. Pouco importa aqui uma opinião critica sobre a edição, ou seja, lá que for, diante de uma obra como essa isso é coisa fútil. Diante dessas palavras. 

Se todos puderem mergulhar nessas páginas algumas vezes na vida, não será em vão. Crescemos um pouco quando lemos a ultima frase desta obra.



Não conseguir vencer a Maratona Literária #EuSouDoideira, conseguir ler apenas 3 livros. E este fazia parte desta maratona e foi o segundo livro que li.
Para este livro escolhi uma canção que pode expressar um pouco de algumas ideias que o livro me ajudou a me aprofundar. A questão do ver e não fazer nada. O mundo está cheio de imagens, de sons, de palavras, mas que não são vistas, que não ouvidas, que não são ditas. Isso tem muito a haver com esta história

"Rookmaaker" de Palavrantiga (versão acústica)



Por Jônatas Amaral

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Comentários

  1. Esse livro ta na estante a tempos, mas não consigo ler, o filme já me traumatizou

    http://penelopeetelemaco.blogspot.com.br/

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    1. Olá,
      O filme é um bom filme, peca em algumas coisas, mas mantém uma essência fantástica do livro.
      Promove reflexões, mas não tanto quanto o livro.
      Se um dia quiser, podes superar este trauma e se aventurar. Será uma incrível experiência.

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  2. Realmente Jônatas, é incrível esse livro. Já faz um tempinho que li e até hoje vivo recomendando aos sobrinhos e amigos. Eu tenho uma irmã adolescente e me preocupo muito com tudo que ela ler e sempre questiono a leitura e tudo. E nunca irei esquecer o silêncio de lágrimas que ficamos quando fui discuti-lo com ela. Parabéns pela resenha!

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  3. Amei o texto e essa música do palavra antiga é maravilhosa.Parabéns!

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