[RESENHA] "O Tempo e o Vento: O Continente 1" de Érico Veríssimo



A minha relação com este livro começou da mesma forma que a saga de “O Tempo e O Vento” começa, por coincidência ou destino:

“Era uma noite fria de lua cheia” (pag,1)

“O tempo e o Vento” é uma série de livros escrita por Érico Veríssimo a qual possui como pano de fundo, a história do Brasil, mais especificamente a história e formação do sul do Brasil. São 7 volumes que retratam cerca de 150 anos de história de uma mesma família e suas gerações.

O primeiro livro “O Continente 1”, narra 4 histórias, sendo 3 (A fonte, Ana Terra. Um certo Capitão Rodrigo) com começo, meio e fim; e uma (O Sobrado) divida em 3 capítulos, sendo esta podendo ser considerada a história central e ‘amarradora’ de toda a saga.


O livro inicia-se em um clima tenso. Período de guerra, no ano de 1895. Somos apresentados, então, a família Cambará, agora acuada pelos “maragatos” em seu sobrado na cidade de Santa Fé: sem comida, sem água, com pessoas a beira da morte, mulheres grávidas, sem um pingo de esperança.


Para se entender como a situação chegou a esse ponto e quem é essa família somos levados para o ano de 1745, 130 anos antes, época em que os jesuítas estavam no Brasil a catequizar os índios. Em “A Fonte” tudo é focado na história e relação entre Padre Alonzo e o indiozinho Pedro, este um menino muito especial, que tem visões do futuro e até do presente. De inicio a história parece fora de contexto, como um peixe fora d’água, mas, como sempre, para saber é sempre preciso virar a página.

Como se fosse um respiro, voltamos ao Sobrado e nos deparamos novamente com aquela família. Conhecemos um alguém muito marcante: a velha Bibiana, e será a partir dela que conheceremos a história de uma das personagens mais fortes e inesquecíveis da literatura: Ana Terra.

“Sempre que me acontece alguma coisa importante está ventando” costumava dizer Ana Terra.

Ana terra e sua família pode-se dizer viviam no meio do nada, num deserto verde, viviam da agricultura, isolados da cidade, indo a ela só para vender suas mercadorias. Os Terras são gente de bem, assim como são “cabeças-duras”, fortes, orgulhosos, com personalidade forte.


Ana é uma jovem muito bonita, única filha mulher o que deixa Maneco Terra super alerta, principalmente quando Pedro (SIM, o mesmo indiozinho da primeira história), começa a trabalhar em sua casa.

Ana e Pedro se apaixonam o que traz a tona um terrível e desastroso conflito familiar, que explode ao mesmo tempo em que um conflito civil começa acontecer.

Ana Terra é uma personagem que luta verazmente por aquilo que acredita e sente; é forte mesmo com o mundo caindo, e mesmo quando não há mais lugar e esperança, levanta-se e segue, dá continuidade a família, sendo ela no futuro a avó de Bibiana. Duas mulheres que muito bem poderiam ter existido de tão verossímeis que são.

Em uma breve volta no Sobrado lemos uma das mais lindas e singelas sequências literárias. Logo depois , é justamente sobre Bibiana e seu romance com “Um certo Capitão Rodrigo” que o livro mostra estar chegando ao seu ápice.


Capitão Rodrigo é um homem que encanta a todos com seu discurso, inclusive o leitor, assim que chega à Santa Fé. Rodrigo é fanfarrão, amante de uma boa guerra, de uma boa briga, e de uma boa noite de prazer com alguma rapariga. Apaixona-se por Bibiana, com quem se casa, mesmo a contra gosto de seu pai.

Bibiana torna-se uma mulher tão forte quanto sua avó. Casada com Rodrigo suporta todos os erros de Rodrigo; O espera todas as vezes que parte com seu cavalo. As atitudes deles nos deixam em um estado revolta, assim também como os seus contrapontos nos fazem admirá-lo, compreendê-lo. 

Nesta história você vive em estágio de tensão até o fim, principalmente quando, aqui, estoura a Guerra dos Farrapos. Prepara-se para momentos cruéis, incríveis, lindos e inesquecíveis.

O livro chega ao fim com um “quê” de naturalidade e tensão o que instiga “matar e morrer” pelo segundo volume.

Editora Globo, 34º edição, 1997.
A escrita de Érico Veríssimo é encantadora, assim como sua criatividade e destreza de criar enlaces fantásticos entre as histórias que apresenta, com objetos tão simples.

É uma história que se o mundo não soubesse ter sido escrita por um homem, com toda a certeza poderia ser um relado de histórias verídicas.

Foi um livro que me marcou e me fez ter inúmeras sensações até a última frase. O tempo e o vento são elementos bastante presentes na trama, só lendo para saber como. Ele possui críticas severas a muitas coisas; criticas que vão direto ao ponto, mas com uma linguagem extramente sofisticada, em termos de literalidade. O que é lindo de ler.

É difícil resumir em poucas palavras um livro tão complexo e gostoso de ler, mas posso dizer que o tempo investido lendo esta obra prima não será, jamais, em vão. Cada páfina nos traz razões e emoções inimagináveis, cada palavra está lá porque tem que está lá escrita no seu lugar certo. Nada se retira. É um livro que podemos chamar de Grande Literatura.

Por Jônatas Amaral

Comentários

  1. Uau, Jônatas! Que fôlego, hein. Achei ótima sua descrição da estrutura do livro... Gostei tbm das fotos que vc colocou intercalando com o texto. Nossa, isso sim é uma resenha. Nunca li nenhum desses volumes do Veríssimo, mas sua escrita me instigou bastante pq é do tipo de leitura que gosto.
    .
    Realmente achei super ótimo e vc ganhou uma fã. Nos vemos nos próximos posts.
    leiagarotaleia.blogspot.com.br

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    1. Muito obrigado Andressa.
      Fico feliz que meu texto tenha instigado a leitura desta obra que se tornou uma das minhas favoritas.

      Muito obrigado!
      Até mais!

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  2. Eu li até agora o Vol. 1 de o Arquipélago. Pra mim os melhores são o continente Vol. 1 e Vol.2. Eu tive a mesma sensação que você. É uma obra máxima, mágica, literalmente um diamante. Não conseguiria encontrar adjetivos suficientes para qualificá-la. Érico Veríssimo, de forma espetacular, faz com que todas as sensações sejam flamejadas integralmente.

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