[#OSCAR2013] “Os Miseráveis”. Escute a voz deles.

       

“Para os miseráveis desta terra sempre haverá uma chama que nunca se apagará”

De todas as frases cantadas e maravilhosamente interpretadas no Filme “Os Miseráveis” (Les Miserables, Universal Studios, 2012) esta é a que mais consegue despertar-nos o entendimento de que esta produção não retrata só uma sociedade francesa pós-revolução, a vida difícil de pessoas pobres; e sim retratam o ser humano e suas misérias, seus conflitos internos e externos.

“Os Miseráveis” é uma adaptação para o cinema do musical da Broadway, que foi baseado na obra de Victor Hugo. Conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), um homem preso por roubar um pão, que recebe e quebra sua liberdade provisória, vivendo agora com outro nome, se tornando prefeito da cidade. Ao conhecer Fantine (Anne Hathaway) sua vida e o seu passado começa a confronta-lo novamente, pois o General Javert (Russel Crowne) sempre esteve a sua procura, e junto a isso um desejo de revolução surge no coração da sociedade.

A história se passa na França do século XIX entre duas grandes batalhas: A Batalha de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832, e a direção de arte e fotografia conseguiram construir todo um ambiente deste momento, e ressalto que os cenários são tão bem construídos que conseguiram demonstrar o estado interno de cada personagem, como se ilustrassem o coração de cada um. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte por isso, em minha opinião.

Outro fator técnico que ajudou a contar esta história foi a maquiagem, que foi digna do Oscar que ganhou. Exagerada quando precisava; sutil quando menos se esperava. O exagero é algo que neste filme é um ponto favorável. Tudo é muito grandioso para que quando nos depararmos com os pequenos gestos, simples detalhes, ao sutil percebamos a grandiosidade, também, dos mesmos.

Eu costumo dividir o filme “os miseráveis” em quatro partes, como um espetáculo:

O primeiro momento, é o começo do recomeço de Jean Valjean. Temos aqui, então, um homem tentando recomeçar e mostrar que você precisa ter coragem para tal ato.

Hugh Jackman surpreende nesse filme, sua interpretação é comovente e natural. O Diretor Tom Hopper arriscou em fazer um musical com os atores cantando durante A cena, e isso Hugh Jackman soube explorar, assim como muitos outros do elenco. Jean Valjean é um personagem que demonstra a coragem do homem e seus questionamentos. 



O segundo momento é um dos mais impactantes do filme. Neste momento temos um Jean Valjean “bem-sucedido” em seu recomeço, uma França mais suja e desigual, e então conhecemos Fantine, intepretada como nunca ninguém interpretou. Brilhante e Perfeitamente por Anne Hathaway.

Fantine é o ápice da carreira de Anne Hathaway, são cerca de 23min na tela, que poderiam ser só mais 23min e pronto. Porém o que Anne Hathaway fez em pouco mais de 20 min, dezenas de atriz nunca conseguiram fazer em um filme de 2h30min.

Fantine é a juventude e a maturidade e seus conflitos. Uma mãe que viveu para sua filha, se acabou para conseguir dar uma vida à ela, Cosette (Isabelle Allen).

Anne incorporou o sofrimento e os dramas de Fantine, também se ‘acabou’: abriu mão da vaidade e do simplismo e fez tudo para dar vida a sua filha, talvez mais querida. E assim o Oscar de Melhor atriz Coadjuvante foi para Anne Hathaway.




O terceiro Momento é a tensão social, aqui conhecemos Cosette (Amanda Seyfried) adulta, agora sob os cuidados de Valjean. Marius (Eddie Redmayne) e seus companheiros com sede de justiça, “Os homens com raiva”. Acompanhamos o triangulo amoroso entre Cosette, Marius e Eponine.

Neste terceiro ato vemos uma grande diversidade de sentimentos aflorando: o amor em diversas formas, a raiva social, novamente a crise da identidade e a coragem para fazer o que é certo.

Russel Crowne mostra a que veio neste terceiro ato, e começa deixar transparente toda a carga dramática de Javert, que tem em seu destino fazer o seu trabalho.

“Amar alguém é ver a face de Deus”. 
O amor surge como uma esperança, uma vontade de viver e salvar uma vida. Neste contexto encontramos Eponine, lindamente interpretada por Samantha Barks. Eponine é uma personagem que lutou por aquilo que amava, até o extremo.
O quarto momento e último temos o motim e o gran finale. Aqui cada ator/atriz que tinham sido exigidos ao máximo, são agora exigidos ao máximo grau possível. Você enfrentar a morte por aquilo que ama é uma das injustiças, misérias humanas, é estranho dizer este pensamento, por ser tão injusto ter que morrer, ao mesmo tempo em que é heroico e digno. E é sentimento que se exigi dos atores.

Temos ainda grandes atuações de Helena Bonham Carter , Sacha Baron Cohen , Dee Bradley Baker.


Como foi dito antes, tudo em “Os Miseráveis” é grandioso, porém creio que as cenas mais tocantes e grandiosas são as mais simples, visualmente falando (cenários, efeitos...)

Tom Hopper utiliza um artifício de câmera que dava ao ator a chance de explorar na cena cada sentimento, e ao telespectador sentir todas elas. Se temos um solo a câmera estar focada no rosto do ator, ele não tem escapatória. A Cena é o rosto do ator e os sentimentos. E assim temos os lindíssimos solos de Fantine, Eponine, Jean Valjean e Marius.


E além de outros grande e ‘simples’ momentos que não se precisa de uma palavra. Um olhar neste filme diz tudo, assim como um gesto.

A música liberta, cura, faz refletir. “Os Miseráveis” é um musical do inicio ao fim, são 158 minutos que nossa alma, mente, nossos olhos e ouvidos são bombardeados de emoções (músicas). E os conflitos ali apresentados são tão conhecíveis por nós, que uma lágrima que seja jorrará pelo rosto.

“Os Miseráveis” foi, sem dúvida, um dos melhores filmes de 2012, ouso dizer, da década. Ouso dizer um pouco mais: ele marcará, nem que seja um pouquinho, a vida de cada um que se permitir baixar a guarda e ouvir a voz soante, amorosa, raivosa de “Os Miseravéis”.

Confira o Trailer, e escute a voz de "Os Miseráveis"

Por Jônatas Amaral.

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